quarta-feira, 5 de outubro de 2011

História x surrealismo, Brasil x Bulgária - o tempo não para...

História x surrealismo, Brasil x Bulgária - o tempo não para...


O mundo se transformou muito nos últimos 30 anos e, ao contrário do que se previa, o mundo não acabou. Nem a história. Nem o tempo.

Malgrado as previsões e possibilidades razoáveis, no sentido do ragnarok, russos e americanos - entre ameaças, jogos de espionagem, tretas e cagaços - acabaram mijando na espoleta dos mísseis nucleares e, tudo acabou em depósitos e silos e, complicadas conversações em torno da segurança e eliminação do espantoso arsenal de armas nucleares.

Ao contrário da hipótese aventada pelo filósofo Francis Fukuyama, que foi moda no fim dos anos 80, a história não acabou, no sentido de confronto ideológico entre o leste e oeste – tendo sucumbido apenas o regime socialista e a crença no socialismo, depois das mais variadas tentativas de implantação e a completa desmoralização do rombudo e quase ilegível arcabouço teórico que o sustentava, tendo sobrevivido o regime democrático e a livre iniciativa econômica pela simples razão de que aquele esta foi a forma de produção que se impôs, na medida em que foi o que melhor respondeu, aproveitou e explorou as possibilidades de produção e circulação de mercadorias, ancorado na garantia da livre ação individual e aquele foi se mostrando o que melhor se ajustou às necessidades de organização social e política*.

E, por mais que os cientistas tentem nos surpreender com supostas descobertas que questionam os fundamentos da teoria einsteniana (aquela que adoramos fingir que apreendemos perfeitamente e sem assombro) sobre o conceito de tempo e o que ocorre entre o infra e supra mundos da física, a verdade é que a noção de tempo preferida dos humanos é a noção de tempo histórico e emotivo - o primeiro nos dando a ilusão de que, a despeito de tudo, estamos sempre avançando, em termos de vida e civilização humana e este, que permite tudo, em termos de manipulação da história pessoal, através dos mecanismos que nos possibilitam a viajem no tempo desde a alvorada da humanidade, isto é, a memória e o desejo.

Passados pouco mais de trinta e poucos anos da queda do muro de Berlim, o Brasil é uma potência econômica emergente, tendo um invejável mercado interno e a marca de maior exportador mundial de commodities agrícolas. Mas isto só foi possível porque foi implementado um exemplar programa de controle das contas públicas e saneamento do sistema bancário, a partir do governo de Itamar Franco e até o fim da era FHC (que talvez seja o mais importante e civilizado presidente da república brasileiro do século passado)**.

O cargo de presidente da república é ocupado hoje por uma mulher, eleita pelo voto direto e secreto, que foi, tempos atrás, anistiada dos crimes praticados na juventude, na militância de grupos ditos revolucionários de esquerda - em plena ditadura militar (que era tido como governo "de direita"), cujas ações visavam justamente a implantação de uma uma outra ditadura, de natureza socialista, baseado justamente no modelo que fracassaria penosamente, apenas duas décadas depois.

E, neste momento, ela está de visita ao país onde nasceu seu pai, a Bulgária, terra de seu pai - que dizem, empreendeu fuga de lá para a América Latina - com parada final no Brasil, em circunstâncias pouco heroicas (o que não vem ao caso)***.

E pergunto: noves fora o incenso no ego da mandatária da nação e até, talvez, a elevação do orgulho da nação bulgara, qual é a necessidade ou importância de sua viagem à Bulgária? Uma resposta pode ser intuída da verificação das atuais trocas comerciais realizadas entre ambos os países.

Antes de ir à república balcânica, a presidente do Brasil - ancorada na saúde do sistema financeiro do Brasil**, tinha passado um baita pito nos presidentes europeus, declarando que as reformas que realizaram só havia servido, abro aspas, para aprofundar a crise que vai abatendo mais e mais países da União Europeia - essa gente ignorante e incompetente das Oropas, que não manja nada de economia e política!

O escritor Campos de Carvalho publicou em 1964 um interessante livro, cuja texto era vazado numa linguagem que trafegava entre o surrealismo e o dadaísmo, chamado “O púcaro búlgaro”, cujo fio condutor era a realização de uma expedição para a verificação da existência da Bulgária, cujo único indício de existência era uma vasilha, chamada púcaro.

A Bulgária real, é um país cuja história recente pode ser resumida pela diferença entre o dia em que o regime de Stalin meteu por lá suas botas (liberalidade decorrente do tratado de Yalta) e os efeitos resultantes do fim do regime imposto pelos russos, depois que Gorbachev assinou os sucessivos decretos de falência da União Soviética, do que decorreu a declaração de fracasso do comunismo.

A jocosa tese sustentada pelo autor mineiro talvez tivesse parte inspirada na verificação da absoluta nulidade política, social e econômica do país, ante o efeito centrípeto do regime de comunista russo sobre o indefeso país, algo de contorno evidentemente realmente surreal.

Se a presidente quisesse abrir os olhos, os ouvidos e os sentidos - e desde que pudesse esquecer a agenda, os compromissos e as teses equivocadas de seu partido, talvez pudesse aprender muito sobre o que foi a realidade resultante da imposição de um regime socialista ao pais onde nasceu e viveu boa parte da vida o seu pai.

Acontece que os militantes dos partidos de esquerda sabem da inviabilidade do socialismo que fingem processar. Simplesmente acontece que usam o cavalho de tróia do socialismo de butique para conquistar o que verdadeiramente querem - dinheiro e poder ilimitado e mais alguma coisa!

Voltando ao escritor mineiro, fico imaginando, sua reação, se estivesse vivo e pudesse acompanhar a visita da presidente deste surpreendente Brasil à atual (e ainda inexpressiva) Bulgária.
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Um evento assim merecia uma cobertura adequada. Cadê o repórter Borat?****
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* Vale dizer: a livre-iniciativa nunca foi seriamente contrastada, em termos de forma exercício da liberdade individual e forma de produzir e fazer circular riquezas. Os regimes ditos socialistas, pelo contrário, é que tentavam implementar uma suposta forma socialista de produção - da qual estava eliminada a possibilidade de seu exercício como forma de expressão da liberdade individual, suprimida em favor dos suspostos interesses coletivos. E deu no que deu...

Aparentemente, aquele fatalismo que Marx afirmava em relação ao socialismo como estágio final do desenvolvimento político e social da humanidade, por incrível que pareça, vai militando em favor da livre iniciativa, umbilicalmente ligada à democracia representativa.

Só aparência. Na mesma medida em que se multiplicam os acordos para incremento de parcerias regionais voltadas para a produção e circulação de mercadorias e riquezas entre países de determinadas regiões (o que, sob certos aspectos, serve como forma de medida da insersão dos países e economias envolvidas no mercado internacional), vão se alastrando os mecanismos destinados ao controle da produção, sendo que muitos desses mecanismos de controle não passam da imposição de exigências ditadas por determinadas bandeiras ideológicas - conservacionistas, classistas, regionalistas e outros, que são pouco mais que uma forma esperta de obstacularizar ou encarecer a produção de bens de consumo.

E isto é um evidente resultado do fracasso do ideário socialista, cujos orfãos se aproveitaram de suas instituições e práticas para levar avante "esquerdismo" - espécie de ideologia que defende o coitadismo em todas as suas variantes, mediante a setorização política que hoje conhecemos.

De qualquer forma, uma provocação: se existe algo regime de produção melhor do que o capitalismo, nós temos o direito de conhecê-lo. Ou, como disse Churchil, a respeito da democracia representativa: "É o pior regime conhecido, com exceção de todos os outros".

** Querem ver a reação da imprensa a soldo sobre este inegável fato do passado do pai da presidente da república? Visite este link:

http://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2011100522705/Nosso-pais/correspondente-do-globo-ataca-pai-da-dilma-mas-poupa-a-mae.html

*** Na época da realização do saneamento do sistema bancário brasileiro, cujo processo anda muito lembrado na Europa, neste momento de crise, o Partido dos Trabalhadores moveu todas as suas baterias (isto é, sua estrutura partidária e as instituições aparelhadas - partidos caudatórios, sindicatos, universidades, imprensa a soldo, imprensa "a favor", etc.) contra o presidente da república, chegando mesmo a pedir o seu impeachment, por tal motivo. No dia em que as medidas foram votadas no Congresso Nacional, inclusive, humilhavam aos parlamentares da base governista, atirando-lhes moedas de 1 centavo, para caracterizá-los como vendidos ou vendilhões da pátria.

Mas, foi justamente o saneamento do sistema bancário brasileiro promovida por Fernando Henrique Cardoso que salvou o país de sacrifícios e quebradeiras, nas três crises financeiras planetárias que se sucederam. A decantada saúde financeira do sistema financeiro e bancário vem justamente da adoção de medidas que foram criticadas pela nomenclatura do partido político que hoje governa o Brasil...

Enfim: a presidente da república bate no peito por motivo para o qual seu partido e os governos petistas nunca concorreram.

Mas, a despeito do aspecto surreal e um tanto grotesco, isto também é história!...

**** Sim, eu sei: o personagem Borat tinha como origem um paiseco do leste europeu. Mas, eu pensava em termos de estilo...

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